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O consumidor pós pandemia irá parcelar mais ou menos?

Um grande divisor de águas na vida do consumidor brasileiro foi o conceito de parcelamento de compras que surgiu na década de 50 com a popularização dos crediários. Inicialmente bem recebido, o ato de parcelar proporcionou um alcance maior na quantidade de pessoas elegíveis para o consumo de itens antes restritos a classes de poder aquisitivo mais alto. Uma pesquisa feita pelo DataFolha a pedido da Associação Brasileira de Internet (Abranet) mostrou que, em 2020 – um ano fortemente impactado pela pandemia de Covid-19 e, consequentemente, pela aceleração na implantação de novas tecnologias para meios de pagamento, o cenário de parcelamento cresceu de maneira massiva, desbancando seus dois grandes ‘concorrentes’ – o dinheiro em espécie e o cartão na função débito.

Os novos hábitos ocasionados pelo isolamento social somados à tecnologia avançada interferiram em toda a cadeia de compras – desde os meios de aquisição até as ferramentas de pagamento. Uma vez que a defasagem na educação financeira se mostra como uma das principais razões para a má utilização do crédito, entendemos que, por mais eficientes que as inovações para transações sejam, os consumidores seguem desinformados sobre como utilizar os recursos de maneira segura.

Hoje, o brasileiro está entre as populações mais inadimplentes do mundo, com 40% acumulando dívidas superiores a R$4.000,00, segundo dados da Serasa Experian. Isso nos faz questionar até onde uma maior facilidade na aquisição de bens e serviços proporcionada pelo parcelamento deixa de ser um incentivo econômico e passa a ser descontrole financeiro. Para dimensionarmos a situação, um estudo feito pela CNDL (Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas) mostrou que 62,3 milhões de brasileiros parcelaram suas últimas compras e que 52% deles não planejam um controle de gastos.

Amadurecimento de práticas

O perfil do consumidor foi alterado após a pandemia. A necessidade de estar cada vez mais imerso no mundo digital fez com que o usuário marcasse presença constante nos e-commerces das marcas. A pesquisa My Life, My Wallet, realizada pela KPMG, por exemplo, mostrou que 81% dos entrevistados realizaram mais compras online no período da crise sanitária do que realizavam antes. Tal crescimento impulsionou, tanto clientes quanto varejistas, a buscarem novos meios de pagamento – o consumidor atrás de benefícios como descontos em pagamentos à vista; e o empreendedor visando disponibilizar mais opções aos seus clientes, pensando em melhorar a UX.

Os avanços da tecnologia no setor são percebidos na maior variedade dentro da carteira digital, onde encontramos os novos meios de pagamento como aproximação, link de pagamento, QR Code e PIX. De todo modo, o cartão de crédito segue como o preferido para as compras – o consumidor ainda opta por esse recurso devido a facilidade de pagamento e pela possibilidade de parcelamento sem juros ou com uma taxa pequena, como aponta a pesquisa feita pela Trigg no primeiro trimestre deste ano.

De maneira sintetizada, afirmo que hoje temos um mercado econômico em processo de aquecimento pós-pandemia, ainda que com um público significativamente endividado. Dessa forma, os novos meios de pagamento trarão muitos desses resquícios de velhas práticas, mas, com cada vez mais auxílio da tecnologia e ferramentas de disciplina financeira, propiciarão um amadurecimento do processo de compra, levando a um perfil de consumidor mais consciente e caminhando para o avanço da educação financeira. Este movimento gerará um aumento do consumo consciente e redução da inadimplência, que a longo prazo, favorecerá todos os participantes da economia.

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Rodrigo Luiz Machado Teixeira

Especialista no mercado de meios eletrônicos de pagamentos, Rodrigo Teixeira é formado em Administração pela Universidade Federal de Uberlândia. Iniciou a carreira na área de telecomunicações, teve passagem pela extinta Brasil Telecom e foi o responsável por criar a área de inteligência de mercado e pesquisa de marketing na Bematech. Em 2015 fundou a então Pago Cartões, hoje conhecida como Granito Pagamentos, onde é sócio-fundador e CEO.

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