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Entrevista Exclusiva – Importância da liderança feminina com Dra. Camila Morais Leite

Dra. Camila Morais Leite – Sócia Coordenadora da área de Direito Tributário e LGPD, do escritório Marcelo Tostes Advogados

Para uma série de entrevistas exclusivas e comemorativas em homenagem ao Dia Internacional da Mulher, convidamos um grupo muito especial de executivas renomadas para a ação e nos proporcionar suas visões sobre a importância da liderança feminina nas empresas, a importância do Dia da Mulher e o que ele representa. Além de reportarem a realidade em suas áreas sobre a equiparidade nos cargos. A convidada especial de hoje é a Dra. Camila Morais Leite – Sócia Coordenadora da área de Direito Tributário e LGPD, do escritório Marcelo Tostes Advogados

Confira a entrevista completa com a Dra. Camila:

1.) Euriale Voidela: Na última edição publicada para as melhores empresas para trabalhar, apenas, 10% delas tinham uma executiva com o título de CEO — a expectativa é que essa porcentagem suba neste e nos próximos anos. Analisando ainda os dados publicados pelo estudo, para os cargos gerais de liderança nas 150 melhores empresas, os índices são bem maiores (40%). De qualquer forma, sabemos que estes números são bem diferentes quando analisamos o mercado de forma geral. Desta forma, em sua visão, como visualizar a importância da diversidade e presença feminina das lideranças em seu segmento?

(Dra. Camila Morais) Acredito que a diversidade sempre agrega. Homens e mulheres têm um olhar diferente sobre o mercado de trabalho. Enquanto os homens costumam ser pragmáticos e focados em resultado, as mulheres conseguem promover, com naturalidade, um engajamento positivo das pessoas. Acredito que o líder que não entende o perfil das pessoas, não entende do negócio.

Por trás de qualquer business há colaboradores trabalhando. Ainda que seu negócio seja 100% digital, você terá colaboradores cuidando do seu RH e do seu marketing. São essas cabeças pensantes que fazem a roda girar. Mas cada um tem um background diferente, tem uma estrutura familiar própria.

O que eu percebo é que a mulher, talvez pelo instinto maternal e natureza cuidadora, consegue acolher mais os indivíduos, humanizando a empresa. Uma líder que conhece profundamente seu time, tem mais condições de trabalhar para lapidar os talentos de cada um, minimizando falhas e, principalmente, conseguir extrair mais satisfação pessoal para aquele profissional.

Quanto mais satisfeito e estimulado o colaborador, certamente mais resultados trará para a empresa. Portanto, a aliança entre pragmatismo do homem e a pluralidade da mulher tende a gerar um ambiente de trabalho mais sadio e consistente, mais propício aos bons resultados financeiros.   

2.) Euriale Voidela: Proporcionar uma experiência ao cliente fantástica e possuir uma cultura centrada no cliente em toda a jornada de relacionamento, cada dia está sendo mais valorizado pelo consumidor, tanto no B2B ou no B2C. No segmento de experiência do cliente, temos grandes referências femininas atualmente no Brasil e esta presença está crescendo a cada dia. Quais as dicas você daria para as mulheres que desejam uma carreira na área?

(Dra. Camila Morais) A natureza plural da mulher que, por assumir vários papéis desde sempre (mulher, dona de casa, mãe, esposa, profissional), tem mais sensibilidade para entender a complexidade de cada indivíduo e extrair o melhor das pessoas, sejam elas clientes ou colaboradores.

Se a mulher se encontra em uma posição de venda, ela vai se aproximar do seu cliente, procurar entender suas dores, seu percurso e assim, concluir o que lhe traz satisfação. Nesse relacionamento com o cliente, a sensibilidade e a capacidade observadora pode ser uma grande ferramenta.

Também acredito que a mulher possui uma melhor capacidade persuasiva em relação ao homem, cujo pragmatismo em alguns casos é excessivo. Acho que um conselho seria justamente que a mulher nunca perca essa natureza intuitiva e a capacidade de compreensão, que não tente se igualar à objetividade masculina, pois são essas características tão peculiares que lhes garantem perenidade em qualquer carreira.

O cliente deseja ser ouvido e acolhido. E a habilidade interpessoal excepcional da mulher a permite entender sob a perspectiva do cliente.

3.) Euriale Voidela: Em sua visão, qual é a importância para o “Dia Internacional da Mulher” para o mercado brasileiro?

(Dra. Camila Morais) Em geral, eu não me sinto representada pelo vitimismo que uma ala mais radical do feminismo sugere quando levanta a bandeira do Dia da Mulher. Acredito sim que seja um dia para celebrar nossas conquistas e nossa caminhada rumo a um mercado mais diverso. Acredito em nosso protagonismo resultante de nossas ações e não do nosso grito.

Respeito e legitimo a luta de nossas ancestrais por um mercado mais inclusivo. Por elas hoje temos poder de escolha: Votamos, decidimos se queremos ter uma carreira, se vamos casar, se vamos ter filhos, se vamos ser donas de casa. Temos oportunidades a nosso alcance e isso devemos àquelas que lutaram por essa igualdade.

Não digo que o caminho está pronto, consolidado, mas avançamos tanto em tão pouco tempo. Acredito que para toda mudança de paradigma cultural existe um tempo de maturação e, justamente por isso, acredito que nossas ações valem mais do que o grito e as passeatas.

Particularmente, considero um grande privilégio ser mulher e poder executar tanto. Valorizo muito a cumplicidade silenciosa que existe entre as mulheres e acredito que quando somos menos combativas e deixamos de lado a defensiva, conseguimos ir mais longe e ter o merecido reconhecimento.

4.) Euriale Voidela: Qual mensagem você gostaria para todos sobre o “Dia Internacional da Mulher”?

(Dra. Camila Morais) O Dia Internacional da Mulher não deve ser visto como mais uma data comercial, mas sim como uma data para exaltar os múltiplos papéis assumidos pela mulher e avançar em debates importantes para que os papéis sejam equilibrados.

Outro dia li uma frase interessante: “A sociedade exige que mulheres trabalhem como se não tivesses filhos e sejam mães como se não trabalhassem fora. A conta não fecha”. Pelo fato de gerarmos outras vidas, quase sempre recai sobre nós a responsabilidade para criar os filhos e assumir toda a carga mental que esse nobre ofício demanda. Enquanto o homem, em geral, se dedica a um papel por vez, a mulher consegue assumir vários, mas isso não significa que seja fácil.

Exemplificando: o homem, enquanto está no trabalho, não sabe se acabou o leite em casa, se a ajudante deu o remédio aos filhos no horário correto, se o sacolão foi entregue. Não sabe qual é o cardápio do almoço, se os filhos estão precisando de roupas novas, enfim, ele está 100% dedicado ao trabalho enquanto sua mulher está equilibrando todas essas preocupações com seu trabalho fora de casa.

Essa carga mental não é vista, parece um trabalho “invisível”, mas é extremamente desgastante, sobretudo quando somada ao fato de que são elas que exercem também a jornada doméstica quando acaba o expediente profissional. Essa divisão de tarefas infelizmente ainda é uma falácia, embora existam exceções.

5.) Euriale Voidela: Em seu segmento, o quão equilibrado é o seu ambiente de trabalho em relação a homens e mulheres? Como foram os desafios em sua carreira e trajetória nesta visão para evidenciar nesta comemoração de “Dia Internacional da Mulher”?

(Dra. Camila Morais) Especificamente em nosso escritório, temos o seguinte cenário. São 66% de colaboradoras e 34% de colaboradores. Em cargos de liderança, o perfil fica mais equilibrado, contando com 52% de homens e 48% de mulheres. Mas no mercado, em geral, acredito que o desafio seja justamente que as empresas entendam que a diversidade agrega ao invés de focar na gravidez da mulher e as implicações que dela possam advir.

A análise não pode ser tão pragmática e simplista, é preciso um olhar mais profundo e, em geral, esse olhar vem justamente da mulher que ocupa o cargo de liderança.

6.) Euriale Voidela: Visando as empresas que desejam implantar um modelo eficiente de gestão organizacional voltado igualdade, nesta “Dia Internacional da Mulher” que conselhos relataria para que possam contribuir para um mercado com oportunidades iguais?

(Dra. Camila Morais) Dando oportunidade para que a mulher alcance cargos de liderança e, assim, consigam modificar o padrão de pensamento da maioria dos líderes masculinos. Outro dia li sobre um estudo que apontava que os líderes masculinos tendem a analisar qualquer situação apenas sob o seu próprio ponto de vista. E por eles não serem tão flexíveis ou dispostos a interagir com os outros, os líderes masculinos podem tender a forçar sua perspectiva e convencer pela força de sua posição, ao invés de persuadir. Os líderes masculinos tendem a não necessariamente convencer as pessoas a concordarem com elas, mas a pressionar e impor o seu ponto de vista.

Já as mulheres líderes, segundo este estudo, seriam capazes de levar os outros ao ponto de vista delas ou mesmo alterar seu próprio ponto de vista, a depender das circunstâncias e informações apuradas. Elas podem fazer isso porque realmente entendem e se preocupam com a história dos outros. Isso lhes permite chegar a um assunto a partir da perspectiva do público ou do seu cliente, de modo que as pessoas que elas estão liderando se sintam mais compreendidas, apoiadas e valorizadas. Mais uma vez a habilidade interpessoal e a sociabilidade da mulher são vistas como engrenagens importantes para um ambiente propenso a resultados melhores.

7.) Euriale Voidela: Diversos estudos, já comprovaram que a diversidade nos times e conselhos administrativos, possuem resultado direto com o aumento das receitas e resultados da companhia.

Diante do cenário nesta comemoração do “Dia Internacional da Mulher e em sua visão, quais são os ganhos e benefícios para as empresas e sociedade, em políticas empresariais de igualdade?

(Dra. Camila Morais) Na minha gestão, seja em casa ou no trabalho, costumo entrevistar as pessoas sob a seguinte linha de raciocínio. O que te faz trabalhar satisfeito? Essa é uma premissa fundamental para mim, pois é muito desagradável trabalhar com pessoas carrancudas, que não dão bom dia, que não interagem em equipe de forma minimamente educada e respeitosa.

Atribuo este comportamento à falta de realização no ambiente de trabalho. Claro que ninguém é alegre o tempo todo e todos tem seus momentos difíceis, mas acho que a mulher tem essa capacidade admirável de identificar o que está por trás das pessoas.

Talvez pela resiliência inerente à mulher, ela tem uma abordagem única para lidar com desapontamento, rejeição ou situações que podem impactar negativamente no ambiente profissional. Acredito no poder mais inclusivo de liderar das mulheres e essa habilidade hoje em dia é absolutamente necessária para que as empresas continuem a prosperar. 

8.) Euriale Voidela: Em sua área, você teve alguma(as) inspirações femininas durante sua carreira profissional? Quais foram suas grandes inspirações?

(Dra. Camila Morais) Minha maior referência feminina é sem dúvida minha mãe. Por não ter coragem de deixar as filhas sob os cuidados de uma babá e por meu pai ser médico e, portanto muito ocupado. Abandonou um emprego que poderia ser bastante promissor na antiga Belo Mineira (atual ArcellorMittal) para se dedicar exclusivamente à maternidade. Por ser muito disciplinada e focada, certamente teria sucesso em qualquer carreira, mas optou pelo ofício mais nobre e menos reconhecido: ser mãe.

É um ato de muita coragem e hoje, mais do que nunca, mães que renunciam à carreira profissional são extremamente julgadas e subestimadas. É um enorme contra senso na medida em que a luta pela igualdade incluiu justamente o poder de escolha da mulher.

Minha mãe sempre nos educou para a liberdade, principalmente através do incentivo ao estudo. Sempre nos ensinou a poupar, pois as mulheres naturalmente cuidam da gestão financeira em casa. São habilidades incríveis e menosprezadas. O conhecimento certamente é a grande chave para a liberdade, seja ela financeira ou emocional e afetiva. Não tenho dúvidas de que uma mulher que se dedica integralmente aos filhos cria seres humanos melhores.

Outras mulheres que me inspiram são Ayn Rand e Margaret Thatcher, sobretudo porque eram mulheres firmes, que executaram muito em prol do reconhecimento da mulher, mas avessas à militância a qualquer custo. Garantiram seu protagonismo por mérito, pelo trabalho duro e pelo estudo, sem apego à vitimismo ou supostas dívidas históricas.

Ação especial em homenagem ao “Dia Internacional da Mulher” – Portal Customer.

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