Transformação Digital

Transformação digital é sobre cultura

*Por Fabrício Visibeli, sócio-diretor da CBYK

A transformação digital se tornou um mantra repetido por nove entre dez executivos de empresas de qualquer porte. A exceção é aquele que, realmente, teve êxito na mudança de sua empresa ou o chamado empreendedor digital, cuja natureza de seu negócio esteja baseada em tecnologia e cultura. E também por dez entre dez palestrantes – só que estes não transformam empresas.
 

Este número de um em dez espelha o resultado de estudo realizado pela Fundação Dom Cabral, que aponta uma taxa de êxito de apenas 12,5% para as empresas que implementaram programas de transformação digital.

A primeira questão deveria ser a definição de transformação digital, mas isso equivaleria a discutir em Buenos Aires quem é o melhor camisa dez, Messi ou Maradona. Assim, copiei ipsis litteris algumas definições, todas retiradas de páginas oficiais de respeitadas consultorias.

O termo transformação digital descreve a implementação de novas tecnologias, talentos e processos para manter a competitividade em um panorama tecnológico em constante mudança.

Transformação digital é uma mudança de mentalidade que as empresas passam com o objetivo de se tornarem mais modernas e acompanharem os avanços tecnológicos que não param de surgir.

A transformação digital envolve a reestruturação dos processos e mudança cultural.

A transformação digital é o processo que envolve a utilização de tecnologias digitais para criar novos — ou modificar — modos de funcionamento de negócios, cultura e experiências do cliente com o objetivo de atender às mudanças de comportamento e de demandas do mercado como um todo. É a reinvenção na era digital.

Parece que estamos sempre falando de embarcar mais tecnologia, mas será que comprar máquinas, softwares e investir em treinamento vai realmente transformar a minha empresa? Neste caso, vamos fazer um intervalo no debate e construir uma linha do tempo baseada em décadas da tecnologia moderna. Qualquer critério serviria.


1951 – lançamento comercial do primeiro computador, capaz de cálculos simples e manipulação de dados


1961 – desenvolvimento da tomografia computadorizada

1971 – envio do primeiro e-mail


1981 – lançamento comercial do primeiro notebook, pesando 12 quilos


1991 – lançamento do navegador WEB para uso público


2001 – banda larga disponível inclusive para uso residencial


2011 – Bitcoin, uma moeda da era digital, se consolida no mercado


2021 – começa a era do Chat GPT – as IAs saem do gueto


Essa lista de inovações tecnológicas representa apenas alguns exemplos modernos.

Mas se formos fiéis à literatura, o “homem das cavernas” já ajudava a tornar viável a espécie humana no mundo. A pedra lascada, o domínio do fogo, a invenção da roda, a oralidade, entre tantas outras coisas, são acervos da arqueologia do “Homo sapiens tecnológico”, expressão de Michel Puech, que aqui pegamos emprestada. Na prática, tudo o que o humano faz, desenvolve e produz, atualmente, ele o faz com a tecnologia.

Cada um pode desenhar a linha do tempo da tecnologia que preferir, eu me divertiria bastante com uma baseada apenas em grandes filmes, uma vez que a arte, nas palavras de Ezra Pound, antecipa o nosso futuro. Filmes que falam de tecnologias do futuro e de nossas expectativas e medos em relação a ela, como Viagem à Lua (de 1902), 2001 – Uma Odisseia no Espaço (de 1968), o Exterminador do Futuro (de 1984) e o pungente IA – inteligência artificial (de 2001).

Mas, acompanhando uma linha do tempo da tecnologia, verificamos sem sustos que todas as grandes inovações tecnológicas foram adotadas e absorvidas por empresas de todo porte sem que tenham sido estabelecidas em anos passados a discussão sobre a tal de “transformação digital”. Aliás, MEI não usa celular? Maquininha? Whatsapp? Pix? Não é tecnologia embarcada?


Portanto, não estamos falando apenas da incorporação de novos recursos tecnológicos às empresas e ao nosso dia a dia. Afinal, automatizar processos e simplificar formulários apenas não significa que eles se tornam, de fato, necessários, assim como adquirir um moderno sistema de SAC automática não implica que os seus clientes serão melhor atendidos.


Como sabemos, as mudanças trazidas pelos avanços tecnológicos acontecem, cada vez mais, em ritmo acelerado e, por isso, a transformação é um infinity game, em queas empresas se submetem constantemente, tentando acompanhar o gap tecnológico que tende a aumentar com o passar do tempo (e dos avanços científicos). Nesse processo, não é possível estabelecer uma linha de “começo, meio e fim” justamente porque se trata de uma constante, ou seja, o natural é a mudança.

Por todas estas razões acreditamos que a transformação digital é, sobretudo, resultado de uma mudança cultural, que deve começar pelos acionistas e gestores – por exemplo, sem uma cultura de erro, não haverá uma cultura de inovação – e se estendendo de forma não hierárquica por toda a empresa, dos serviços de limpeza, baseados em mão de obra, até o chamado C-Level.

A partir da reflexão sobre o tema, concluo que a transformação digital se constrói com e por pessoas, e este deve ser o grande ativo das empresas com base tecnológica e daquelas que desejam integrar-se à economia moderna. As pessoas devem ser o CORE.

Uma transformação digital bem sucedida certamente demanda novas tecnologias, mas o core do sucesso está na modernização dos valores da organização, de forma que uma filosofia baseada na inovação, na descentralização, na aceitação do risco de erro e na confiança nas pessoas, sempre o melhor ativo, seja o pensamento dominante

*Fabricio Visibeli
Com mais de 20 anos de experiência, Fabricio atuou em diferentes áreas do setor de tecnologia, como bancos, consultoria, varejo e telecomunicações. O executivo respondeu por mais de dez anos à gestão de equipes e acumulou em sua recente experiência na Espanha, métodos de trabalho eficientes e modelos mundiais de gerenciamento de equipes. Com formação em Ciência da Computação na FEI, pós-graduação em gestão de projetos de TI na USP e especialização de liderança na inovação pelo MIT, Visibeli é sócio-diretor na CBYK, desenvolvedora de software e de soluções personalizadas de TI.

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