Em complemento às soluções e instituições financeiras já existentes, o mercado de crédito ficou muito mais democrático com a expansão das fintechs. Somente no Brasil, há mais de 1.200 empresas da categoria atuando – e o número só tende a crescer. Além disso, no desafiador ano de 2020, as startups financeiras captaram US $1,9 bilhão em todo o mundo, superando os números de 2019.
Como evolução dessas fintechs, aumentam também as SCDs (Sociedades de Créditos Diretos), que fazem operações de crédito com recursos próprios e trazem serviços adicionais, como análise e cobrança para terceiros, além de emitirem moeda eletrônica e cartão de crédito. Segundo o Banco Central do Brasil (Bacen), das 74 fintechs de crédito operando no Brasil, 64 são SCDs.
Ao fomentar a inclusão de recursos na economia, sem dúvida, temos uma grande oportunidade em dar acesso ao crédito à população. Mas diante do alto volume de SCDs, surge também a discussão e a necessidade da implementação de uma governança adequada aos regulamentos e boas práticas regulatórias, como, por exemplo, as exigidas pelo Bacen.
Mais que em qualquer período da história, vivemos em um ambiente com um grau de conhecimento e acesso à informação muito elevado, o que torna ainda mais possíveis cooperações e integrações entre os diversos reguladores. A atuação do Bacen tem criado um ótimo alicerce para a evolução deste mercado e as novas regulamentações têm proporcionado uma robustez a este cenário.
Estrutura interna, prevenção à lavagem de dinheiro, compliance e gestão de riscos são só alguns dos pilares sobre os quais uma fintech em processo de transição para SCD deve se consolidar. E para auxiliar nesse desafio, compartilho um mapeamento dessas obrigações.
Ao estruturar uma área que envolve Compliance, Prevenção a Fraudes, Prevenção à Lavagem de Dinheiro, Riscos, Regulatório, Controles Internos, Segurança da Informação e Auditoria Interna, podemos pensar em um modelo baseado em quatro pilares: Processos, Tecnologia, Governança e Pessoas.
Automatização e valor agregado são a base de uma área de governança, a fim de tornar os processos escaláveis e que, ao final do dia, tragam maior segurança e eficiência à empresa. Com os avanços em automatização relacionados às principais atribuições de gestão de governança, as empresas podem ter abordagens mais inovadoras no processo de prevenção e monitoramento. Exemplos como Inteligência Artificial, Machine Learning e Big Data ilustram bem isso. Com isso, deixamos de ter áreas com um custo de observância elevado para estruturas que geram valor agregado às organizações.
Já em relação à tecnologia, o pano de fundo é o ambiente em que as organizações e os profissionais relacionados com Governança de Riscos vivem: a evolução da Transformação Digital, que está em constante evolução seja nas questões de Fraudes, Dados, Monitoramentos Velocidade das Informações, Inovação, Formas de Trabalho e Recursos Humanos, afetando principalmente o modelo de atuação das próprias empresas. Diante disso, quais os desafios que precisam ser mapeados dentro do seu contexto? A companhia está preparada em termos de equipe e tecnologia?
Quando abordamos a gestão de pessoas, é fundamental discutir o incentivo à formação e à capacitação dos profissionais. Lembrando uma frase atribuída a Steve Jobs e que acho muito apropriada para este tema, “tecnologia sozinha não é nada. O importante é ter fé nas pessoas e acreditar que elas são boas, inteligentes e que se você der a elas ferramentas, elas irão fazer coisas maravilhosas”. Pensando alto, como gestores de times e de equipes multifuncionais, como estamos habilitados a explorar fatores assim?
E por fim, mas não menos importante, temos a governança, com o envolvimento da Alta Direção e a criação de Comitês de Gestão que permitam o gerenciamento das organizações. Como essa área está sendo estruturada na SCD em que você atua?
Temos o desafio de trabalhar em processos inovadores, permitindo uma melhor expansão de crédito e serviços alinhados com uma governança regulatória e de riscos associados. Além disso, possuir informações qualificadas, gestão de dados e processos formalizados e testados ajudam no fortalecimento deste novo cenário que surge, requerimento este, tanto regulatório, como por parte dos investidores, clientes e fornecedores.
*Luciano Carvalho é diretor de gestão de risco da Provu