Jornada e Colaborador

Trabalho híbrido: por que flexibilizar pode reconectar

*Por Priscila Pellegrine

A pandemia provocou uma revolução nas relações de trabalho. O modelo remoto, estabelecido para conter o avanço da transmissão do coronavírus, vem sendo substituído pelo trabalho híbrido por muitas empresas, na tentativa de resgatar as atividades presenciais, uma vez que a vacinação já avançou bastante no país. Nesse desafio de vermos os escritórios vazios e sem a energia que as pessoas trazem, o que ficou claro para a área de Recursos Humanos é que essa nova forma de trabalhar pode trazer benefícios para todos.

Uma empresa é por essência uma comunidade e como tal abre espaço para as relações humanas. O ambiente de trabalho é um local de troca, conhecimento e conexão, onde os aprendizados se tornam mais enriquecedores à medida que o processo colaborativo contribui para o desenvolvimento profissional e pessoal. Por outro lado, a pandemia fez com que todos descobrissem o valor de um bem muito precioso: o nosso tempo (quando empregado com qualidade…).

O estudo “Great Expectations: Making Hybrid Work Work”, da Microsoft, revelou que mais da metade dos profissionais (53%) está mais propensa a priorizar sua saúde e bem-estar sobre o trabalho do que antes da pandemia. O levantamento aponta, ainda, outros aspectos considerados “muito importantes” para os colaboradores, como a cultura positiva (46%), benefícios de bem-estar e saúde mental (42%), senso de propósito (40%) e flexibilidade no horário de trabalho (38%).

E é exatamente essa flexibilidade que se pretende manter com o estabelecimento do modelo híbrido, com alguns dias de trabalho presencial e outros em home office, com a liberdade para chegar mais tarde ao escritório, sempre que preciso (dentro de uma margem de horas pré-estabelecidas) e para sair mais cedo todas às sextas-feiras, escapando dos engarrafamentos.

Ainda que a tecnologia tenha ajudado a manter as pessoas conectadas durante a pandemia, existe uma “falsa” sensação de maior produtividade quando trabalhamos em casa.  Analisando a fundo percebemos que situações simples, que poderiam ser resolvidas numa virada de cadeira, numa conversa rápida no corredor ou durante o cafezinho, se transforma num link de mais uma reunião dentre as tantas que acontecem sequencialmente em um tradicional dia de trabalho remoto.

Após dois anos, o tempo de reunião semanal para o usuário médio do Teams aumentou 252%, e os bate-papos enviados por pessoa a cada semana cresceram 32% – e ainda estão subindo. Esse excesso de links, mensagens e multicanais para o trabalho, quando a gente já retornou a um cenário de normalidade, é prejudicial às relações, ao que se entende por produtividade e ao bom funcionamento das relações humanas nessa “comunidade” que é uma empresa.

Um dos pontos importantes do trabalho híbrido é que as equipes e os profissionais precisam ter bastante domínio sobre suas atividades, capacidade de autogestão e autonomia. Por isso, é necessário um conjunto de ações favoráveis a essa evolução do modelo de trabalho, com políticas claras e objetivas, treinamentos, quando necessário, e práticas que sustentem a real flexibilidade no mundo corporativo.

Pouco tempo após voltarmos ao trabalho presencial, no modelo híbrido, vários foram os feedbacks de colaboradores admitindo que gostavam mais de vir ao escritório do que podiam se lembrar, mas também vários deles ainda estavam com as rotinas muito acomodadas ao modelo remoto, e resistiram a entender a importância do retorno à cultura organizacional. Portanto, o modelo híbrido vem para atender o melhor desses dois mundos e mostrar que sim, é possível vivenciar as duas realidades.

Um dos objetivos do modelo híbrido é tirar as pessoas da inércia provocada pelo isolamento do trabalho remoto, que gera solidão e desconexão com as práticas e rituais corporativos. O senso de pertencimento faz parte da experiência humana e estar no ambiente de trabalho é uma das formas de valorizar essa experiência e de sentir valorizado também. Afinal, mesmo os colaboradores com mais tempo de casa enfrentaram, ainda que em algum momento pontual, um descolamento do senso de pertencimento por estarem fisicamente distantes dos colegas de trabalho após meses de formato remoto.

Se a autonomia e a flexibilidade são as principais vantagens para os colaboradores, no modelo de trabalho híbrido as empresas experimentam a redução de custos operacionais, menores taxas de absenteísmo e otimização das atividades. Muitas companhias estão apostando nesse formato como futuro do trabalho, mas vale lembrar que ele requer planejamento, processos e ferramentas adequadas para que todos possam tirar o melhor proveito dos dois mundos: o presencial e o remoto.

*Priscila Pellegrine é diretora de Recursos Humanos e Comunicação da Farmacêutica Zambon. Formada em Administração de Empresas pela Universidade Mackenzie, é especializada em psicologia organizacional.

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