Euriale VoidelaJornada do Paciente

Programa de CX em Saúde: Embaixadores do Paciente e Comitês de Experiência na Prática

Como implementar uma cultura de cuidado centrada no paciente para melhorar a satisfação e os resultados clínicos em hospitais e clínicas - Por Euriale Voidela

Como especialista em experiência do cliente e na jornada de experiência do paciente, com anos de atuação ajudando empresas a aprimorarem a forma como interagem com seus públicos, constato que o setor de saúde é um dos mais desafiadores, mas também um dos mais recompensadores quando se trata de aprimorar a experiência. Nos últimos anos, clínicas, hospitais e centros de medicina diagnóstica têm sido desafiados a repensar a maneira como oferecem seus serviços. O foco, agora mais do que nunca, está claro: a experiência do paciente.

O conceito de experiência do paciente emergiu como uma pedra angular para a sustentabilidade e sucesso das instituições de saúde. Segundo um estudo da PwC, 49% dos pacientes consideram que a experiência que têm durante seu atendimento médico é tão importante quanto a qualidade dos serviços clínicos recebidos. Isso demonstra a urgência das instituições de saúde em evoluírem seus modelos, colocando o paciente no centro de suas operações, tanto para assegurar a qualidade no atendimento quanto para garantir maior satisfação e fidelização.

A experiência do paciente é uma jornada complexa e multifacetada, que vai muito além da interação clínica. Ela abrange cada ponto de contato que o paciente tem com a instituição de saúde, desde a marcação da consulta até o acompanhamento pós-tratamento. As clínicas e hospitais que conseguem colocar o paciente no centro de todas as suas operações não apenas aprimoram a qualidade do atendimento, mas também se destacam na capacidade de gerar satisfação e construir relacionamentos duradouros com os pacientes.

A Jornada do Paciente: Mapeando o Percurso

O ponto de partida para entender a experiência do paciente é mapear sua jornada. Isso significa observar cada interação, cada detalhe, e identificar pontos de atrito que podem impactar diretamente a satisfação. No setor de saúde, esse mapeamento é vital para melhorar o atendimento e a percepção dos pacientes. Desde a recepção, passando pelo atendimento médico, exames, diagnósticos e procedimentos, cada um desses momentos forma a jornada do paciente. Porém, o que realmente faz a diferença é como o paciente se sente em cada etapa.

Mapear essa jornada não é apenas um exercício operacional, mas uma forma de identificar oportunidades de melhoria e implementar mudanças que gerem um impacto positivo. Ferramentas como pesquisas de satisfação e pesquisas de esforço do cliente (CES) são cruciais para entender onde os gargalos estão. A CES, por exemplo, mensura o quanto de esforço o paciente precisou para completar uma ação – seja marcar uma consulta, entender as orientações médicas ou acessar resultados de exames – e ajuda a identificar os pontos críticos que podem estar impactando a experiência.

A comunicação com o paciente é outro fator determinante nessa jornada. Ela deve ser clara, humana e empática em todos os momentos, desde a recepção até o acompanhamento pós-tratamento. Pesquisas demonstram que falhas na comunicação são uma das maiores fontes de insatisfação no setor de saúde, gerando ansiedade, insegurança e desconfiança. Assim, investir em uma comunicação eficaz é um dos passos mais importantes para melhorar a jornada do paciente.

Além disso, o conceito de hospitalidade em saúde tem ganhado força. Inspirado por setores como hotelaria e varejo, esse conceito busca criar um ambiente acolhedor e seguro para o paciente. A ideia não é apenas garantir um atendimento médico de qualidade, mas também construir um espaço onde o paciente se sinta respeitado e bem cuidado, minimizando o estresse comum nas instituições de saúde. Uma jornada mais confortável e fluida gera pacientes mais satisfeitos, que tendem a confiar mais na instituição e recomendá-la a outras pessoas.

Satisfação do Paciente: O Reflexo do Cuidado

A satisfação do paciente é um dos pilares mais importantes quando falamos de experiência no setor de saúde. E isso vai além de bons resultados clínicos; trata-se de garantir que o paciente tenha uma experiência positiva em cada aspecto de sua jornada. A satisfação está diretamente relacionada a fatores como a relação com a equipe médica, a facilidade de acesso aos serviços, a transparência no diagnóstico e tratamento, e o acompanhamento pós-atendimento.

Medir a satisfação de maneira eficiente exige o uso de métricas que vão além do óbvio. Pesquisas de satisfação tradicionais fornecem insights importantes, mas ferramentas como o Net Promoter Score (NPS) podem ser ainda mais reveladoras, ao medir a probabilidade de recomendação. Pacientes que têm uma experiência positiva estão mais propensos a recomendar a instituição, enquanto aqueles que enfrentam problemas, por menores que sejam, podem se tornar detratores. Ouvir esse feedback é essencial para entender o que está funcionando e onde há necessidade de ajustes.

Outro indicador valioso é a pesquisa de sentimento. Essa métrica vai além da simples satisfação e avalia as emoções que os pacientes sentem durante o atendimento. Ela ajuda a identificar se o paciente se sentiu acolhido, respeitado e compreendido, ou se enfrentou momentos de ansiedade e frustração. A pesquisa de esforço do cliente (CES) também é fundamental para medir o quão simples ou complicado foi o processo para o paciente. Instituições que conseguem reduzir o esforço do paciente – seja em marcar consultas ou acessar resultados – tendem a melhorar significativamente a percepção de qualidade.

Além de monitorar essas métricas, as instituições precisam agir sobre o feedback de forma proativa. Responder rapidamente às sugestões e queixas dos pacientes fortalece a confiança na instituição e ajuda a elevar o nível de satisfação. Não se trata apenas de resolver problemas quando eles surgem, mas de prevenir que esses problemas aconteçam novamente, ajustando processos, aprimorando a comunicação e garantindo que a jornada do paciente seja cada vez mais suave e satisfatória.

Instituições que adotam uma abordagem ativa na gestão da satisfação e da fidelização do paciente colhem os benefícios a longo prazo, não apenas na melhoria dos resultados clínicos, mas também na construção de um relacionamento duradouro e de confiança. Afinal, a satisfação do paciente não é apenas um reflexo do cuidado, mas também o caminho para consolidar uma imagem positiva e sustentável no mercado de saúde.

Cuidado Centrado no Paciente: A Nova Realidade do Setor de Saúde

O conceito de cuidado centrado no paciente é uma extensão natural da metodologia de experiência do cliente (Customer Experience, CX), que coloca as necessidades e expectativas do paciente no centro de todas as decisões. Em vez de focar unicamente na eficiência operacional ou no tratamento médico isolado, essa abordagem busca entender o paciente como um cliente que deseja ser ativo em sua própria jornada de saúde. Isso envolve não apenas o cuidado clínico, mas também aspectos emocionais, sociais e até mesmo logísticos da experiência hospitalar ou clínica.

Tradicionalmente, o sistema de saúde seguia um modelo paternalista, no qual os profissionais de saúde tomavam todas as decisões, sem muita participação do paciente. No entanto, à medida que os pacientes se tornam mais informados e exigentes, esse modelo tem se mostrado obsoleto. O cuidado centrado no paciente segue a mesma premissa do CX, onde o cliente (neste caso, o paciente) é reconhecido como o maior especialista em suas próprias necessidades e preferências. Essa abordagem visa garantir que o paciente não seja um receptor passivo, mas sim um participante ativo, com voz nas escolhas de tratamento e nas decisões que afetam sua saúde.

Nesse sentido, as instituições de saúde que implementam práticas de CX, adaptadas para o contexto clínico, conseguem oferecer uma experiência personalizada, engajadora e centrada na confiança. Mapeamento da jornada do paciente, personalização do atendimento e comunicação clara e eficaz são ferramentas já conhecidas no mundo de CX e agora estão sendo cada vez mais aplicadas no setor de saúde, elevando os níveis de satisfação e fidelidade do paciente.

O Impacto do Cuidado Centrado no Paciente na Qualidade Assistencial

Os benefícios de adotar uma abordagem de cuidado centrado no paciente, fundamentada na metodologia de experiência do cliente, vão muito além de melhorar o relacionamento entre paciente e instituição. Pesquisas mostram que essa prática impacta diretamente a qualidade assistencial, com resultados clínicos significativamente superiores. Ao envolver os pacientes nas decisões sobre seus tratamentos, ocorre um maior comprometimento com o plano terapêutico. Isso se traduz em maior adesão ao tratamento, recuperações mais rápidas e uma melhor gestão de doenças crônicas.

A participação ativa do paciente nas decisões também reduz a possibilidade de erros médicos e retrabalhos. Quando o paciente se sente à vontade para expressar suas preocupações e dúvidas, a comunicação é mais fluida e clara, e a equipe de saúde pode adaptar as intervenções para atender de forma mais eficaz às necessidades individuais. Em termos de CX, isso é conhecido como redução de atrito, um conceito que busca eliminar barreiras e dificuldades ao longo da jornada do paciente.

Um exemplo claro desse impacto pode ser observado em pacientes com doenças crônicas, como diabetes ou doenças cardíacas. Quando os pacientes participam ativamente de suas decisões de cuidado, eles tendem a seguir melhor as recomendações médicas, modificar hábitos prejudiciais e adotar estilos de vida mais saudáveis. Isso reflete diretamente nos resultados, como a diminuição da necessidade de hospitalizações ou de intervenções mais invasivas, e na melhora da satisfação geral do paciente.

Capacitação dos Profissionais de Saúde para um Atendimento Personalizado

Para que o cuidado centrado no paciente seja eficaz, é necessário investir em uma capacitação robusta dos profissionais de saúde, baseada nos princípios de experiência do cliente. Assim como em outros setores, onde o sucesso depende da conexão entre os colaboradores e os clientes, na saúde, essa conexão é essencial para criar um atendimento que seja não apenas clínico, mas também humano e empático.

Profissionais de saúde precisam de treinamentos que vão além das habilidades técnicas; eles devem ser capacitados em comunicação empática, decisão compartilhada e gestão de expectativas. Isso ajuda a construir uma relação de confiança com os pacientes, onde eles se sentem ouvidos, respeitados e, principalmente, engajados com seu próprio tratamento. Em um ambiente de CX, essa estratégia é chamada de humanização do atendimento, que visa criar uma conexão emocional que fortaleça o relacionamento entre cliente e empresa, ou no caso, entre paciente e instituição de saúde.

Além disso, é vital promover uma colaboração interdisciplinar entre médicos, enfermeiros, assistentes e outros profissionais. Equipes que trabalham de forma integrada, com o paciente no centro, conseguem oferecer um cuidado mais coordenado e eficaz, aumentando não só a qualidade do atendimento, mas também a satisfação e a confiança do paciente. Isso reforça o conceito de experiência integrada, onde todos os pontos de contato – desde o primeiro atendimento até o seguimento pós-tratamento – são alinhados e consistentes, promovendo uma jornada mais coesa e satisfatória para o paciente.

Programa de CX com Embaixadores do Paciente e Comitê de Experiência do Paciente: Construindo uma Cultura de Excelência

Uma das estratégias mais eficazes para garantir a centralidade do paciente em todas as decisões e processos de uma instituição de saúde é a criação de um Programa de CX com Embaixadores do Paciente e a formação de um Comitê de Experiência do Paciente. Esses dois elementos são pilares essenciais para transformar a cultura organizacional e garantir que o foco no paciente seja constante, em todos os níveis da instituição.

Embaixadores do Paciente: Vozes Ativas para Melhorar a Experiência

Os Embaixadores do Paciente são colaboradores treinados e capacitados para atuar como defensores ativos da experiência do paciente dentro da organização. Inspirados nos programas de Embaixadores de Cliente presentes em setores como varejo e tecnologia, esses profissionais desempenham um papel crucial em identificar e solucionar problemas que afetam diretamente a jornada do paciente.

Sua função vai além do atendimento rotineiro; eles monitoram cada interação com o paciente, fornecem feedback contínuo às equipes e atuam como uma ponte entre a administração e os pacientes, garantindo que as necessidades e expectativas destes sejam sempre ouvidas e consideradas. Os Embaixadores do Paciente podem ser selecionados de diferentes áreas da instituição – desde a recepção até a equipe médica e administrativa – garantindo que todas as etapas da jornada sejam cobertas.

A criação de um Programa de Embaixadores de CX não apenas melhora a experiência do paciente em tempo real, como também estabelece uma cultura de engajamento contínuo dentro da organização. Os embaixadores são treinados para aplicar técnicas de comunicação empática, lidar com situações de conflito de maneira proativa e promover soluções inovadoras que melhoram o cuidado ao paciente. Isso é fundamental para criar uma experiência mais humanizada e eficiente.

Comitê de Experiência do Paciente: Liderando a Transformação

Enquanto os Embaixadores do Paciente atuam no dia a dia operacional, o Comitê de Experiência do Paciente é responsável por liderar a transformação estratégica. Inspirado pelos Comitês de Clientes amplamente usados em organizações voltadas para o cliente, esse grupo é formado por líderes das áreas de atendimento, gestão hospitalar, recursos humanos e até mesmo representantes dos próprios pacientes. Seu objetivo é garantir que a experiência do paciente seja uma prioridade constante e estratégica em todos os níveis da organização.

O comitê funciona como um fórum onde são discutidos dados sobre a experiência do paciente, extraídos de pesquisas de satisfação, Net Promoter Score (NPS), e outros indicadores-chave de performance. Essas discussões servem para criar ações corretivas e melhorias contínuas nos processos hospitalares e clínicos. Um dos focos do comitê é a análise de feedbacks, especialmente aqueles coletados por meio de pesquisas de esforço do paciente (CES) e pesquisas de sentimento. Essas métricas fornecem uma visão detalhada sobre onde o paciente encontra dificuldades ao longo de sua jornada e como ele se sente emocionalmente durante cada interação.

Além disso, o comitê é fundamental na integração de novas tecnologias que podem melhorar a experiência, como sistemas de prontuário eletrônico acessível, plataformas de agendamento online e canais de comunicação direta com a equipe de saúde. O comitê também estabelece diretrizes claras para a adoção de práticas de hospitalidade em saúde, garantindo que o ambiente hospitalar seja acolhedor e centrado no bem-estar do paciente.

Resultados da Implementação de um Programa Integrado de CX

A criação de um Programa de CX com Embaixadores do Paciente e a formação de um Comitê de Experiência trazem inúmeros benefícios. Entre eles, destacam-se:

  • Melhoria contínua da experiência do paciente: Com feedback constante e análise de dados, a instituição consegue identificar e corrigir rapidamente os pontos de atrito na jornada do paciente, promovendo melhorias rápidas e eficazes.
  • Maior engajamento dos colaboradores: Os embaixadores do paciente são verdadeiros líderes de cultura, espalhando a importância da empatia e da excelência no atendimento por toda a organização. Isso contribui para um ambiente de trabalho mais positivo e motivado.
  • Decisões mais estratégicas e alinhadas com o paciente: O comitê, ao analisar as tendências e desafios recorrentes, ajuda a alta direção a tomar decisões informadas, sempre com o paciente como prioridade. Isso melhora a reputação da instituição e fideliza os pacientes.
  • Crescimento sustentável e melhoria de resultados clínicos: Instituições que implementam programas robustos de CX experimentam não apenas um aumento na satisfação do paciente, mas também melhores desfechos clínicos e financeiros, já que pacientes mais satisfeitos tendem a aderir melhor aos tratamentos e a recomendar a instituição a outras pessoas.

A Experiência como Estratégia Central

Ao integrar um Programa de Embaixadores do Paciente e um Comitê de Experiência do Paciente, as instituições de saúde não estão apenas respondendo às demandas atuais por uma maior humanização do cuidado, mas também estão construindo uma base sólida para o futuro. Essas iniciativas, fundamentadas na metodologia de experiência do cliente (CX), criam uma estrutura contínua de melhoria e evolução, garantindo que as necessidades e expectativas dos pacientes sejam atendidas de forma proativa e estratégica.

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Euriale Voidela

CEO na Customer Centric Consulting e Fundadora Comunidade Customer Force. Consultora de clientes com sólida experiência em governança empresarial, experiência de clientes, comportamento de consumo e satisfação do consumidor com mais de 20 anos de atuação. Mentora, consultora, palestrante e colunista em canais de autoridade do segmento. Diversas premiações em sua carreira e eleita melhor Profissional do Mercado Digital em Customer Experience, Prêmio Digitalks 2019. E-mail: euriale@customercentric.com.br

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