Ter um propósito forte é essencial para alinhar comportamento e resultado. No ESG não é diferente
Hugo Bethlem do Instituto Capitalismo Consciente Brasil traz essa reflexão ao questionar: “qual capitalismo a sua empresa pratica? O capitalismo dos acionistas, segundo o qual a única responsabilidade social é maximizar os lucros e o retorno, ou o capitalismo de todos os interessados, segundo o qual a empresa deve gerar impacto neutro ou positivo em todas as esferas de atuação, incluindo o planeta?” Segundo Hugo, “ESG é a licença da empresa para operar no mundo atual”.
Reflexão sobre uma inflexão histórica. Chegamos próximos ao limite do uso de recursos naturais e de danos atmosféricos causados pela poluição. O consumismo fez crescer o lixo e a poluição de rios e oceanos. Problemas sociais seculares não se resolvem por conta de práticas ora meramente legalistas ora até mesmo irregulares contratação, trabalho e remuneração. São as externalidades negativas que se acumulam e agora a conta vai chegando.
Nesse contexto, a preocupação com os temas ambientais, sociais e de governança (“ESG”) tem crescido nas empresas. Isso pode ser observado pela adesão ao Pacto Global das Nações Unidas pelos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável e Agenda 2030. Só no Brasil, são 1596 empresas associadas, sendo que 1023 se associaram a partir de 16 de março de 2020, que marcou o início da pandemia COVID-19 no Brasil, e dessas mais da metade, 556, associaram-se em 2022.
Será que os Conselhos sabem o que é propósito ESG? A PricewaterhouseCoopers faz pesquisa anual sobre Conselhos (Pesquisa PwC[1]), no mundo. Em 2022, apenas 11% dos conselheiros pesquisados disse que conhecer temas ambientais e de sustentabilidade é muito importante e apenas dois terços disseram conhecer os processos da empresa sobre ESG. Cerca de 55% tratam a agenda ESG com regularidade e a vêem ligada à estratégia, mas menos da metade enxerga impacto no resultado. Cerca de 40% tratou nos últimos 12 meses de remediação de impactos climáticos e do papel da empresa em questões sociais, e apenas 30% tratou de direitos humanos e atuação política.
ESG está no radar, mas longe do centro. Ter estratégia ESG é diferente de ter o ESG como estratégia, de um propósito ESG. Propósito “E” não é só conhecer e mitigar impactos e riscos ambientais, mas conhecer as oportunidades, fazer a diferença nas tecnologias e serviços que evitam impactos e mobilizam mercados. Sim, serviços e comércios podem atuar no “E”, não só indústrias e logística! Estratégia “S” não é só ter diversidade e atender a normas mas dar condições de trabalho compatíveis com bom nível de desenvolvimento social e atuar no entorno e nas cadeias de fornecimento. Qual é a vocação da sua empresa no “E” e no “S”? Quais são as oportunidades? Qual é a sua licença para operar no mundo atual? Tema que não pode fugir do foco dos Conselhos!