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Americanas: o que se sabe sobre o rombo de R$ 20 Bi? Qual a lição para os Conselhos?

Americanas, listada no ISE B3, no índice Dow Jones Susteinability, tem como acionistas relevantes e Conselheiros empreendedores dos mais longevos e bem-sucedidos do país, auditada pela PwC, de renome global.

Segundo fato relevante, o ex-presidente Sérgio Rial apurou diferença de R$ 20 Bi nas contas da empresa, sendo R$ 16 Bi de mercadorias, entregues por fornecedores, cedidos a bancos, que a empresa precisa pagar. Isso porque outros valores foram lançados no passivo da empresa reduzindo o saldo a pagar. Haveria um prejuízo a realizar. Quanto dos R$ 20 Bi são prejuízos? O valor é esse mesmo? O Comitê Independente e auditores dirão.

A empresa tem Conselho Fiscal e Comitê de Auditoria. O parecer de auditoria, sem ressalvas sobre o tema. Essas contas de fornecedores são significativas, das mais sabatinadas nos processos de controle e auditoria. Como isso aconteceu? O que deixou de ser visto ou deixou de ser feito? A quem cabe a responsabilidade? Que lições podemos tirar?

Só o tempo trará respostas úteis, mas, para acalmar os ânimos, neste caso, parece que a empresa tomou a decisão consciente de não consolidar como saldo de passivos financeiros as operações dessa natureza. Isso porque o saldo a pagar está na nota explicativa 5 de instrumentos financeiros nos anos de 2018 a 2021, mas, quando o balanço é consolidado, o mesmo valor é retirado do endividamento da empresa. Não foi falha no radar, mas no piloto!

Empresários questionam: como evitar isso na minha empresa? Conselheiros se indagam: se não sou especialista contábil, como posso prevenir isso?  Uma dica é não se deixar embaralhar pelos números. Olhar a realidade dos fatos: se você comprou 100 em mercadorias e o banco e o fornecedor dizem que você tem 100 a pagar, não acredite em que diz que é só 30, tem algo errado! Outra dica é fazer o cheque de sanidade das contas, pensando na economia real, por exemplo: faz sentido que a empresa tenha em estoques um valor maior do que o saldo a pagar de fornecedores, se a empresa tem por hábito se financiar com os fornecedores e tem o “giro”, ou seja, recebe do fornecedor, vende e paga lá na frente? A empresa disse nas demonstrações financeiras de 2021 que o cenário havia se invertido, que era agora ela que financiava os fornecedores, será verdade mesmo? Na real, dos estoques e vendas?

Ser o chato do texto ajuda: se a nota explicativa aponta uma dívida financeira de R$ 31 Bi e no  balanço tem R$ 21 Bi, o que justifica a diferença?

Transformar Reais em Materiais pode também ajudar, especialmente nas principais contas! Quantas mercadorias esses Reais representam? Quantos ativos? Quantas vendas? Condiz com a realidade dos estoques e vendas da minha empresa? Dedicar tempo a rever as contas. Comparar com empresas do mesmo segmento e práticas. Se cercar de gente boa, mão na massa e agregadora, estimular essa reflexão, pode ajudar!

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Lavinia Junqueira

Lavinia é advogada, fundadora do Junqueira Ie Advogados. É reconhecida por sua experiência na estruturação de operações financeiras e de mercado de capitais, bem como por sua atuação em reestruturações societárias no Brasil e no exterior. Sua trajetória profissional também inclui ampla experiência em M&A, acompanhamento e coordenação de gestão tributária e societária de conglomerados financeiros e não financeiros nacionais e globais e operações de reestruturação de dívidas judiciais e extrajudiciais. É membro de Comitê de Auditoria da Totvs e do Comitê de Investimento do FIP Parques; bem como do Conselho Fiscal do Instituto Natura. Esteve por 10 anos no comitê de auditoria da Natura, também com passagem por comitê do Banco Pine.

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